quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Ana e Pedro


Caixas sem tampa, cartas pelo chão, tapete macio, Roupas em cima da cama de pinho, coberta com lençóis de linho, manhã de inverno, frio, agasalhos, uma garrafa de vinho tinto pela metade, queijo,trufa de mel e porções de angustia se amontoando. Ana fitava uma folha amassada de papel amarelo com letras miúdas e tortas, seus olhos negros se enchiam de lágrimas que brilhavam no bordo.

17.09.2010
Ana,

Queria te dizer ‘você estragou tudo’, ‘que foi imatura’, ‘agiu de maneira hostil e impensada’, que ‘você conseguiu destruir todo amor que existia em mim’... Ensaiei essas frases por vários dias, mas quanto mais eu as pronunciava, mais elas pareciam ridículas, logo elas estavam me fazendo rir, e mesmo, me sentindo destruído e magoado, mesmo sentindo que algo havia morrido dentro de mim, eu sabia que no fim voltaria. Não posso te culpar, não posso te julgar, meu amor é maior que qualquer julgamento.

Sinceramente,
Pedro





Chão de madeira, papeis amassados em cima da cama de madeira bruta, coberta com uma colcha rústica de retalhos, biscoito e leite quente na escrivaninha, o vazio em seu peito crescia em proporções alarmantes. Pedro fitava uma folha branca de bordas floridas com letras redondas e desenhadas, seus olhos verdes e frios escondiam a dor que se espalhava por todo seu corpo.

17.11.2010
Pedro,

     Li sua carta tantas vezes que o papel amassou, e agora tenho que ter cuidado ao dobrá-lo de volta ao envelope. Desculpe-me a demora em respondê-lo, simplesmente não conseguia fazê-lo. A culpa e o remorso me adotaram, sua carta foi muito mais do que eu merecia, tão doce e intenso Pedro.
     A verdade meu bem, é que não tenho bons exemplos de homem em minha família, e quando veio você a me dar o que qualquer mulher desejaria, eu não conseguia mergulhar nesse amor que você tão maravilhosamente me oferecia Junto da paixão também crescia o medo, tudo aconteceu tão rápido. Depressa demais para mim me acostumar. Não podia te falar, inventei a viagem, passei os últimos cinco meses em minha tia na capital, toda vez que me ligava era como um punho fechado no coração. Eu chorava todas as noites. Meu pais me convenceram que era o certo, e toda vez que eu pensava em desistir eles me contavam histórias horrorosas sobre garotas de 16 anos como eu. Quando chegou o dia de assinar os papeis, eu não assinei Pedro, eu não concordei. Minha mãe ficou louca, meu pai quis me obrigar, eu tentei fugir, e na correria acabei caindo da escada, perdendo meu bebe, nosso bebe Pedro. Fiquei dias internada, não podia te dizer. Quando desembarquei daquele avião, você estava lá, me esperando, com aqueles papeis horríveis na mão... Você nunca tinha olhado para mim daquele jeito, me senti imunda, me entregou os documentos e me deixou sozinha e sem palavras, te vendo entrar pelo portão de embarque e se afastar de mim como todos fizeram. O que eu quero te dizer meu amor, é que eu não desisti de nosso filho, eu não podia entregá-lo para mais ninguém se não para ti. Eu só queria ter tido forças para ter dito não aos meus pais, eu só queria poder ter estado com você, que você tivesse cuidado de mim, que me protegesse, mas não... eu sou tão influenciável... Espero que algum dia você possa me perdoar.

Com Amor,
Ana



[Poliana Fonteles]




obs.: Quer saber como Ana e Pedro se conheceram? Clique AQUI

20 comentários:

  1. uma palavra que resume seus textos é impossívl.. intensidade. AMor. Carinho. Jeito. Fascinação. Esplêndido minha querida!
    Perfect!!!

    Adoro tudo em você!

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  2. deu um aperto no coração :(

    por que será que a gente só pensa em amores, sorrisos e felicidade?

    beijos cintilantes Poly

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  3. que suspeita que nada...
    você alguça emoções dentro do peito com seus textos...
    ain anciosa por mais noticias de ana e pedro...hihi

    te amo

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  4. Fiquei com os olhos cheios de lágrimas e pensando: Quantas Anas influenciáveis existem por aí, quantos Pedros... Quanto amor, quantos mal entendidos!

    Amei o texto, facinou-me...

    Beijos mil!

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  5. Lindo texto !!!


    BjO Grande ..... :)

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  6. texto triste lindo mais muito intenso !
    gostei muito ajuda agente a refletir sobre certas atitudes !

    seguindo aqui !
    se puder da uma forcinha me seguindo também :
    http://pitchuquinhaa.blogspot.com/
    Beijo (;
    Ops: adorei seu blog *--*

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  7. Cartinhas de amor são especiais, adro!
    está lindo!
    parabéns
    com carinho

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  8. Tudo pode ser resumir numa cartinha de amor, doce e delicada para ele.
    Adorei, estou seguindo flor.
    Beijos.

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  9. "A verdade meu bem, é que não tenho bons exemplos de homem em minha família, e quando veio você a me dar o que qualquer mulher desejaria, eu não conseguia mergulhar nesse amor que você tão maravilhosamente me oferecia"

    Identificação total neste complexo trecho.

    Texto dramático ... cravado em sentimentos garimpados deste coração teu, tão sensível ...

    Parabéns Poliana. Beijo.

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  10. Oi,Poly!Nossa essas cartas deram um nó na garganta e um aperto no peito,mas quem disse que todas as histórias de maor tem final feliz não é mesmo?
    Beijosss

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  11. Tão intenso e bonito.

    Não posso te culpar, não posso te julgar, meu amor é maior que qualquer julgamento.

    Diz tanto essa frase, me lembra de outra que é mais ou menos assim, quem tem tempo pra julgar ainda não aprendeu a amar.

    Grande Beijo.

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  12. que bom que ta gostando do meu blog !
    fico muito feliz por isso (;
    eu tambem amei seus textos !
    tô esperando você postar mais !
    beijao :*
    http://pitchuquinhaa.blogspot.com/

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  13. Poly, estou aqui passando para informar que deixei um selo para você lá no Devaneios Fugazes acesse e veja, o link é http://devaneiosfugazes.blogspot.com/2010/12/eba-selinho.html

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  14. Este comentário foi removido pelo autor.

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  15. Que aperto no peito, me deu!

    Um beijo!

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  16. Nossa, amei, que história triste,mas o amor as vezes é assim.Nos coloca a prova e nos faz fazer sacrificios.
    adoreei de vdd
    bjus

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