... Ana Gargalhava a dor

      

          Ana respirava distorcido, meio amassado, se esforçando para não rir da palhaçada mórbida estendida em meio ao caos que estava sua vida. Sentada na calçada, as lágrima desciam sujas de rímel derretido, se abraçava como para acalmar a dor, a pergunta silenciosa de “Da pra piorar?” recebe uma resposta rápida vinda do céu sem estrelas, a chuva desaba forte batendo no chão de pedra, ensopando o longo cabelo de chapinha. Por isso o riso, por isso o libertar da dor hilariante, a dor saia em gargalhadas desenfreadas.

        É curioso o que acontece quanto o coração esta cheio demais, quando nos sentimos encharcados, a carga é tão pesada que despejar na face não é o suficiente, temos que gritar, gargalhar, mesmo que o riso pareça mais gritos cáusticos de angústia se libertando. 

       Ainda gracejando, Ana abre os braços e recebe, aceita o que lhe foi dado, por algum motivo inquietante a infelicidade caia sobre ela em por menores, se alargando por seu corpo enquanto ela expulsava-a, se despia da aflição e a jogava na chuva, indo embora pelo ralo, escoando nodosa pelo esgoto. Ana descobriu que tinha uma escolha, que podia se livrar das amarras e decidir o que realmente era importante para ela ao invés de se trancar dentro de si na companhia de eloqüentes oportunidades perdidas, esperando alguém ou alguma coisa liberta-la. Do canto da boca de Ana um riso começava a iluminar seu rosto, como um sol de jardim. Colocou todo o pesar amarrado num barquinho de papel que foi arrastado derretido sob a chuva.

Na maioria das vezes, basta pegar o que ainda resta  e transformar  em algo grande.

[Poliana Fonteles]