terça-feira, 27 de março de 2018

Nós de Nós



Eu comecei a me olhar e eu não quero parar
Espera,
Aquela sagacidade pulsante sempre esteve ali?
Meio sorriso, olhar sem olhar, meias verdades
Espera,
Aquele brilho empático esta intacto?
Lembranças amarradas em fios frágeis que se rompem com odores, sons e contatos.
Espera,
Essa angustia retorcida, embaralhada não quer desmanchar?
Criamos pequenos conflitos de nós todos, 
Me desmancha o olhar de cuidado.
Cuidado, essa é minha prece.
Cuidado comigo, Eu cuido!
Espera,
 Não, não cuido, mas cuidarei.
Esses nós de nós ão de sumir, desmanchar, apagar.



Poliana Fonteles

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Cacos de dor no chão




Deixei cair espaços entre os pés, estilhaçou feito vidro, espalhando pelo arco vazio de sua forma. Pisei firme e sai esmagando o não dito, o “e se” proferido, a dúvida não esclarecida, pisei no sentimento gosmento e fedido da emoção vencida, fora de validade, não praforizada. Uma felpa das coisas deixadas para amanhã penetrou no meu tornozelo, sangrando momentos não vividos. A dor desses espaços vai pesando em sobrecarga, até cair aos nossos pés, fazendo sangrar.
Sim, tem cura, mas não vou falar não, deixa para amanhã.



Poliana Fonteles

terça-feira, 25 de agosto de 2015



“Eu tô bem”, limpo, fácil, sem extensões, porquês ou sentimentos inevitáveis. O “Eu tô bem” nos dá tempo, tempo para fugir, para se esquivar, entrar de baixo das cobertas, fechar os olhos e não deixar nada entrar. Eu sou forte, eu consigo, eu luto, eu desfaleço, eu caio, eu me afogo na angustia guardada, cujas brechas enegrecidas romperam impetuosamente. Mas... eu tô bem! 

quinta-feira, 23 de abril de 2015

ENDIREITAR

Ferrenha e morta,
A quadra bruta da história torta
Destina a cor, o papel e o arranjo
O desigual é espezinhado,
Não tem porta, nem trinco.
Não tem espaço, tem jeito
Coloca num canto,
Trás para trás,
Esconde
Pisa
Entorta.

A humanidade vence a cor?
A cor é reclamada,
O tempo adoça a pele,
A luta se inflama.

Nossa música é negra.
Nossa dança é negra,
Nossa fala é negra
Mamulengos,  caxangá e  Papangus.
Orgulho do sangue que se apregoa nas veias,
Carregamos na pele a história doída
Fuzué, Gambé e Lambança.
Paguemos a dívida Languida.

Endireita, pois cansa.  

quarta-feira, 25 de março de 2015

Não da para correr contra a tempestade sem se machucar


 Intrigante e platônico, o sentimento mútuo que dormia cego entre lamúrias e sofreguidão exaustiva. Heróico era o frágil sorriso bobo que deslizava inquieto e incontrolável por toda a face. Talvez este o único vestígio do amor relutante. Menina apaixona menino, menina que se apaixona sem querer, sem perceber, lentamente e exaustivamente, quando se dá conta  já se passaram quilômetros e quilômetros de sentimento embaraçado.

_ Mais ele é Negro _ Ela disse.

_Ela é magra demais _ Ele pensou.

Há se eles soubessem! Estigmas são falsas promessas, insignificantes e obsoletas. Política suja da falsa perfeição idealizada.  Não dá para parar a intensidade que os cerca, é estóico e neutralizante, tudo parece doer. Não da para correr contra a tempestade sem se machucar.
Dai vem o primeiro toque de mão, fácil e inevitável, como um imã. O corpo fala, em sincronia, não existe diferença, somos carne, frágeis sobreviventes de um mundo hostil.

_ Que sorriso lindo! _ Ela suspira

_ Pele tão macia _ Ele deseja


Não há cor, não há tamanho, não existe forma definida. Ana e Jorge estavam aprendendo e desaprendendo. Aprendendo a somar, desaprendendo a dividir.  



__ Poliana Fonteles

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Como um despertador que faz barulho no íntimo...



A minha essência esta totalmente em suas mãos, despertada no timbre do teu silêncio pretensioso.
Tua vivacidade alimenta minha alma, se contrapõe com a tua ousadia, acordando os meus trejeitos, meus desengonços, minhas atitudes corriqueiras. É engraçada a maneira como minha chama vibra ao calor do teu sorriso, como meu Eu busca a essência fria, guardada tão seriamente em teu abraço. É tão simples, tão espontâneo, me torno a versão mais fiel de quem sou, e nem percebo. Com você é fácil ser essa versão. Sem esforço, sem empenho, vem simples, vem tolo. E se vai na tua ausência. 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A vida acontecendo...





"Continuo cantando a mesma canção, porém as notas mudaram. Acordes, tons e desmanchos se transformam numa melodia menos complicada. Eu sinto a música, o som, a voz, e já não é tão abafado, é vívido!"



Poliana Fonteles

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Bad Boy!... Bad?



Esse sorriso sempre de canto me agride, feminino, bem resolvido, o tipo de sorriso que passa segurança e espontaneidade felina. Paraliso, transpiro, fico estático e bobo, mais do que gosto de admitir. Como uma menina sardenta pode causar tanto mal estar em um cara como eu? Não preciso disso, decididamente não preciso disso. Sou um cara das ruas, o cara que mete medo e o que não tem medo de nada. Então ela chega, coloca sua mãozinha nojenta na cintura, olha exibida nos meus olhos e dissimula um flerte, da risada e me beija, sinto medo. To perdido, meio que desabrigado do que fui um dia, envergonhado da postura ínfima. E ela sabe o que me causa, ela nota o ar indigno que se abate quando meu coração para por instantes, onde a respiração desregulada enclausura o peito, e naquele momento eu não sou nada se não for dela. 



PSFA

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Intitulem por mim esse dissabor! Texto triste e pagão.

       

          Olhos injetados, mãos frias, cabelo despenteado, expressão ilegível, estatura desleixada e tensa. Ana tinha sumido de si. Eu fitava alguém desconhecido, estranho, que me dava medo. Fitava fragmentos de passado que só se mantinham no corpo e na sala. Esfrego os olhos, balanço a cabeça, mas essa outra pessoa continua ali, tomando minha Ana, quebrando sonhos, destruindo lembranças, apagando momentos. 
        Não sei ao certo como deixamos o mal entrar em nossas vidas, tínhamos uma rotina deliciosa, tranzavamos diariamente, éramos felizes em nosso emprego, Ana adorava cozinhar, era viva, do tipo que fica feliz com vento, folhas ao chão, o despertar de um passarinho na janela. O marrento era eu, por que não comigo? Fecho os olhos e só consigo pensar em seu sorriso de covinhas, abro-os novamente e figuro o rosto sem expressão.
           Nós havíamos decidido não ter filhos, tomávamos cuidado, mas não existe esse tipo de birra com a natureza, quando ela quer, ela concebe. Ana engravidou, aos poucos nos acostumamos com a idéia, o volume na barriga de minha mulher me deixava emocionado, não imaginava que aquilo tudo dentro de mim pudesse vir a tona. Não pude barrar o fado feroz que bateu em nossa porta, dormiu em nossa cama, e roubou nossos sonhos. Despertados de nossos devaneios por lenções sujos de sangue. 


Poliana Fonteles 




Ps.: Eu não ia postar, foi criado no inicio do ano...  Eu só achei que não devia escondê-lo por tanto tempo.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

"Fora de Uso"


        A tristeza não combina com algumas pessoas, sem dúvida um acessório perdido, Um brinco velho de alguma tia careta. Puramente não combina!! Essas pessoas não sabem nem senti-la. Não preveem. Se assustam com a chegada estranha e desconexa, não sabem o que fazer com a intensidade mórbida que brota do ser. Uma bagunça desnecessária.  Inutilidade. Vai acabar virando outra caixa com avisos emplacados “fora de uso”.
           Tem gente que nasce mesmo é para ser feliz, a tristeza não tem lugar, não da cria, não finda raízes, vem só de passagem. Sua visita não é bem vinda, se toca e sai de fininho, não se sente confortável com tamanha amplitude de nostálgica.
Quem pode competir com isso?
             
Há! Mas tem quem decore a casa, afofe as almofadas, pinte as paredes e se sente na varanda para ver a tristeza entrar. Acomoda-a, veste-a, a protege do frio, alimenta-a, até que fique forte e saudável. Faz moradia no ser, não é visita, é inquilina. Tem gente que não sabe viver sem a sombra forte da amargura andando pelos corredores da alma, porém vivem em negação, colocando culpa nas casualidades, sem perceber que a permissão foi dada por si mesma.

 

 Eu me encaixo no meio termo, sempre existe um. 



Poliana Fonteles





Ps.: Aquela conversa de ontem. ;)

 

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Alguém me disse que o pior é o que morre dentro de nós enquanto vivemos...


            Das quatro vezes que liguei, apenas a primeira foi consciente, as outras três eram mais como designação da culpa me possuindo os sentidos. Tenho vivido de culpa, ou vivido com a culpa, companheira assídua de meus dias brutos, se senta em meu colo, bebe do meu leite, derrama meu conhaque, aspira a fumaça do meu cigarro, usurpa meu estado inexistente. Eu não existo, sou uma cópia mal feita de seres humanos que se perdem ao nascer. Que triste observação do ser, logo eu que sorria para as nuvens, percebia o cheiro da chuva horas antes do temporal cair. Agora eu não existo, não percebo o "ao redor". O que é o vento? O encanto? Folhas secas no outono significam o que? Apenas Estado de um tempo que não cansa de me pregar peças, só isso. Mas algo dentro de mim diz que já foram de alguma forma, importantes. Como se o simples fosse suficiente!
           Não tenho recordações, só flashes de memórias, e acredite são duas coisas muito diferentes. Diferem no notar, no agir, no sentir o cheiro da lembrança. Eu só vejo recortes de passado em folhas trituradas. E quando sinto, quero dizer, quando sinto de verdade, os sonhos parecem pousar em meus pensamentos como fantasmas que assombram ao contrário, assim, me permito mais.
                                                              Talvez eu me encontre por ai.

Poliana Fonteles

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Está tão frio aqui...



"O desconforto da alma já vinha de abastecimentos passados,
deixando sobrecarregado o coração que não expulsa, não pulsa,
não consegue sangrar...
Coagula a dor, desalinha o ser, endurece a alma."


Poliana Fonteles


segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A dor disciplina o coração...

              
     Ana recordava a lembrança do engasgo, do choro incontido, a verbalização dos sentimentos brutos, saídos diretamente do coração, sem vias na razão, sem passagem lógica, hoje esses produtos ocasionavam o riso. A vértice das decisões não planejadas eram passiveis de serem analisadas minuciosamente, e no presente momento de conjeturar o passado, o faz com precisão, de olhos abertos, pés no chão,sobre a sombra da justa decisão de amar-se intensamente primeiro. E os vislumbres anteriores se tornam quadro negro com uma multiplicação complicada na qual Ana se esforça a entender, aos poucos a sanidade a alimenta e vê uma soma simples, como dois mais dois, fácil de resolver, tolo de entender.
    O coração engana a razão, assim nos tornamos prisioneiros de nossos sentimentos, nos alimentando e vivendo em torno de um anseio que nem mesmo é saudável para nós. A ilusão é tão densa que abrimos mão do ser.
    E mesmo no entendimento justo do passado cego, Ana aprisionou seu coração, como um castigo doloroso de quem não sabe amar. Ana teimosa, coerente e medrosa. “Quando eu estiver pronta” ela fala. Como saberá se aprendeu se tem medo de tentar novamente? Amar é também arriscar-se, com novas escolhas, nova fórmula, nova Ana.


Poliana Fonteles


Ps.: Não pude resistir, o que me marca tem de ser praforizado.
Esse texto é para você que me mostrou lembranças...roubei-as. 

Medo do Tempo

        
     O tempo estava definitivamente bravo, sombrio, intercalando entre escuro e o claro dos raios de trajetórias sinuosas e ramificações irregulares, causando relâmpagos que rasgavam de ponta a ponta o céu sem estrelas, gritando sagaz três ou quatro segundos após o clarão. O vento se fortalecia, se jogando contra muros e troncos, arrancando flores, movimentando o mar. JuAna havia fechado o café mais cedo por conta do temporal, desde criança tinha medo de trovões, eles a faziam se encolher e fazer careta debaixo da pia de seu estabelecimento, com a cabeça apoiada entre os joelhos.
        Na infância amava a chuva, o barulho que vinha com ela, os clarões, a intensidade da água escorrendo por entre os sulcos. A menina JuAna não tinha medo de nada. Escondida de sua mãe ela corria em volta do casarão, mãos postas para o céu, a boca aberta bebendo os pingos de chuva que caiam incessantemente. A JuAna adulta esquecera da Juana menina que amava a chuva e o medo gostoso que vinha junto dela. Essas lembranças foram ofuscadas por clarões, freios, trovões e batida. A menina que esperava o pai para a ceia, a menina que escondia uma moldura feita de troncos embrulhada em papel machê atrás das cortinas, a menina que esperava com ansiedade compartilhar a chuva, o tempo, o peru com seu herói, com seu exemplo, essa menina morreu ao fim da chuva. Quando tudo parece sereno, quando o mundo parecia lavado de todo o mal, alguém bate na porta com um ridículo: Sinto muito! A infância feliz é apagada como um borrão desnecessário, em seu lugar uma mulher sem sonhos com medo do tempo.


                                                                                                                   [Poliana Fonteles]


sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Não são só memórias...




"O discurso poderia ser sempre puro, limpo, direto.
Mas, as memórias mancham e elegem as palavras que ainda não foram ditas.
Podemos polir; escovar; assear, mas a sensação de sujo persiste.
O manifesto das palavras limpas não varrem a alma."  


[Poliana Fonteles]



É PRECISO PRAFORIZAR-SE...